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Do que pude constatar, a decisão de propor a revogação da classificação ocorreu na sequência de avaliação sobre a delimitação das Zonas Especiais de Protecção de vários imóveis classificados de Aveiro que a DRCC esteve a fazer recentemente (julgo que em 2012). No caso presente, e após essa avaliação, foi a própria autarquia de Aveiro que solicitou a revogação da classificação por ter entendido que esta era excessiva, pois condicionava a ocupação da zona urbana envolvente, e pelo facto de alguns dos imóveis em causa estarem muito degradados e na eminência de ruína.
Deixo dois comentários. Por um lado, não deixa de ser estranho que a alegação seja usada em causa própria (isto é, parte da responsabilidade do sucedido é pública, municipal). Por outro, que da tentativa de classificação como Imóvel de Interesse Público resulte, anos depois, o contrário do desejado, a sua destruição.
A partir daqui julgo que temos de evitar centrar a discussão na procura de atribuição da culpa e procurar encontrar novos caminhos. Que saídas então?
Um primeiro caminho poderia passar por perceber as razões que levaram à situação actual, algumas já apontadas por Alberto Souto, nomeadamente a crise da economia salífera e a dificuldade de investimento dos seus proprietários. No caso do palheiro municipal, talvez valesse a pena perguntar a razão porque se deixou chegar aquele estado um imóvel com tal importância e significado e já agora qual era o novo uso que lhe estava destinado. Mas outra das razões tem a ver a fragilidade da medida de preservação do património meramente através de classificação legal.
Um segundo caminho deveria centrar-se na procura de novas modalidades de valorização e preservação dos antigos armazéns de sal nas suas múltiplas dimensões. Admito que não é fácil responder a este desafio, mas talvez valesse a pena explorar duas vias. Uma que passe pela organização da memória do sal (fazer um esforço de registo, organização e divulgação do vasto espólio sobre o sal, envolvendo antigos marnotos, suas famílias, produtores e proprietários; dirigido a vários públicos, desde o escolar, comunidade mais próxima e visitantes), outra pela dinamização das actividades económicas, sociais e culturais que se têm vindo a desenvolver recentemente à volta do sal e da ria. Talvez estas duas vias ofereçam os programas e actividades necessários para dar uma nova vida aos antigos palheiros (envolvendo proprietários, antigos mestres da construção dos palheiros (*), novos empreendedores e, claro, a autarquia) ou para a sua reinvenção.
José Carlos Mota
(*) também neste caso com devido cuidado de registo de processo construtivo para memória futura
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